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domingo, 16 de março de 2025

A Origem do termo Creonte no Jiu-Jitsu. O que significa? Qual a origem?

 

No artigo de hoje, iremos abordar um termo muito peculiar universo do Jiu-Jitsu, o termo creonte, você sabe o que significa? Qual a origem desse termo?

 

E aí samurais, tudo certo?

Se você já treina há algum tempo, com certeza já deve ter ouvido a expressão CREONTE. Quando um cara sai da academia e vai para uma outra é usado o termo “CREONTE”. Mas você sabe o que isso significa e a sua origem?

 

A palavra Creonte tem origem na mitologia grega, Creonte era o rei da cidade de Tebas, onde nasceu o Héracles. Mais o que tem a ver com o jiu-jitsu?

 

Bom a expressão Creonte no Jiu-jitsu nasceu lá nos anos 80 no Rio de Janeiro, na época da expansão do Jiu-Jitsu, onde abriram novas academias além da família Gracie.

Naquela época estava em exibição pela Rede Globo de televisão, uma novela chamada Mandala, de 12 de outubro 1987.

 



Vinheta de abertura da novela Mandala de 12 de outubro de 1987 a 14 de maio de 1988.


 

 Essa novela tinha um personagem que se chamava Creonte Silveira que era interpretado por Gracindo Júnior, filho do também ator Paulo Gracindo. 

O Creonte Silveira da novela era um personagem desleal, ele afastava e traia a confiança de todos que se interessavam por Jocasta, interpretada por Vera Fisher.  Porem a novela foi censurada por incesto, bissexualidade e política no ano seguinte.

 

Personagem Creonte Silveira da novela Mandala de 1987, interpretado por Gracindo Júnior.

 

Foi então que o mestre Carson Gracie, vendo essa novela na época, começou a chamar todos aqueles que trocavam de academia de CREONTES, fazendo uma relação com o Creonte da novela e sempre se referindo a traição.

Carson Grace entendia que naquela época treinar era uma coisa séria, portanto, fidelidade, respeito com seu professor, com seus companheiros de treino era algo fundamental.

A ideia que ele defendia com seus alunos é que eles eram uma verdadeira família e que eles deveriam se defender com unhas e dentes. Portanto, trocar de academia naquela época era realmente uma ofensa e quem fazia isso era considerado um Creonte.

 

Carson Gracie

 

Para entender melhor o que que é Creonte no Jiu-Jitsu, é aquele cara que treina em uma equipe, se gradua, absolve os conhecimentos do professor e dos companheiros de treino e sem nenhum motivo aparente troca de academia e vai treinar com outra escola de Jiu-Jitsu.

 

Apesar de nos dias atuais a relação entre aluno, professor academia não ser mais a mesma dos anos 80, valores como respeito, gratidão, companheirismo sempre deve existir entre aluno e professor. Pelo grande fluxo de praticantes de Jiu-Jitsu, o termo “Creonte” é visto como ultrapassado, já que alunos que se matriculam em uma escola de Jiu-Jitsu, não é ensinados os valores ensinados acima, sendo assim, não têm a lealdade a escola e ao professor. Pode haver algumas razões pelas quais o aluno pode deixar a escola e ingressam em uma nova.


Fonte e referência de artigo:

Portal do vale-Tudo – youtube.com/portaldovttv

domingo, 9 de março de 2025

A Origem da Ponteira Branca na Faixa Preta de Jiu-Jitsu

 

No universo do Jiu-Jitsu, a faixa preta é um dos maiores símbolos de conquista e maestria. Tradicionalmente, essa graduação vem acompanhada de uma tarja vermelha, mas muitos praticantes utilizam a tarja branca. Afinal, de onde surgiu essa variação? É permitido usá-la?

Neste artigo, exploramos a origem dessa prática e seu reconhecimento dentro das regras oficiais.


Faixa Preta com ponteira branca



A Tarja Branca é Permitida?

De acordo com o livro de regras da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ) e da International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF), tanto a tarja vermelha quanto a tarja branca são permitidas. Ou seja, o uso da tarja branca está regulamentado e é aceito oficialmente dentro do sistema de graduação do esporte.

 

A Origem da Tarja Branca

Existem algumas teorias sobre o surgimento da tarja branca na faixa preta. Uma das mais difundidas remonta a um episódio ocorrido nos anos 1990. Segundo essa história, um renomado competidor de judô participou de um campeonato de Jiu-Jitsu e, ao passar pela checagem, foi impedido de lutar por estar sem a tarja na faixa preta, uma vez que, no judô, a faixa preta é lisa. Para contornar a situação, ele improvisou uma tarja branca com esparadrapo e, assim, conseguiu competir. Essa solução improvisada teria, com o tempo, sido incorporada ao Jiu-Jitsu.

 

Para entender melhor a existência da tarja branca na faixa preta, é fundamental olharmos para primeira federação de Jiu-Jitsu, a Federação de Jiu-Jitsu da Guanabara (hoje a FJJRIO) – a 1ª Federação da modalidade do mundo – fundada em 1967, com Mestre Hélio Gracie como primeiro presidente.

 

Após várias pesquisas intensas, chegamos a Academia Oriente, onde há uma pintura com a regra original de 1967 assinada pelo grande mestre Hélio. Você pode encontrá-la no Instagram da Academia Oriente @ORIENTEBJJ. Eles são a história viva do nosso Jiu-Jitsu.

Entramos em contato com o Mestre Max Câmara, que é filho do grande Mestre Sr. Amélio Câmara, Sr. Amélio foi aluno direto do grande Mestre Hélio Gracie, e recebeu das mãos do grande mestre Helio Gracie esta pintura que está na parede da Academia do Oriente nesta data de 1967. Então a regra original do nosso Jiu-Jitsu Brasileiro é esta, o resto foram adaptações, evoluções e modernizações. Mas a regra escrita pelo grande mestre Helio Gracie é esta.

Pintura com a primeira regra do jiu-jitsu no mundo de 27 de agosto 1967 assinada pelo grande mestre Hélio


Antes de irmos diretamente a faixa preta com ponteira branca, vamos falar de acordo com o que está escrito no quadro, o que o Mestre Max me explicou por WhatsApp.

Para crianças: faixa branca, amarelo, laranja e verde. Um detalhe aqui, podemos ver no quadro que há uma faixa branca com a lista preta no meio. Perguntei que significava essa faixa diferente, seria para as meninas.

Para adultos, Braca, branca c/ lista preta (mulheres), azul, roxa, marrom, preta com ponteira branca, preta com ponteira vermelha....

Faixa preta com ponteira branca





Perguntei ao Mestre Max, por que dá ponteira branca na faixa preta, o que o Mestre Max me explicou foi que, a faixa preta com ponteira branca indicava que você era estagiário e não professor.

Detalhe, para receber a faixa-preta o aluno teria que passar por um exame da federação, ministrado pelo Mestre Hélio, neste exame você tinha que saber defesa pessoal, o nome de todas as técnicas, Tinhas de saber primeiros socorros.

Depois de dois anos, o faixa preta, receberia a faixa com a ponteira vermelha e depois de mais dois anos com anéis laterais, indicando como professor, sinalizando sua aptidão para orientar novos alunos. Caso o faixa preta não se dedica-se seria rebaixado para faixa marrom. 

Faixa Preta com ponteira vermelha                              Faixa Preta com ponteira vermelha e aparadores


Além disso, a progressão dentro da faixa preta, incluindo a conquista de graus, depende do tempo dedicado ao ensino. Esse detalhe reforça a diferença entre ser um competidor e um instrutor, algo que o sistema de Hélio Gracie já delineava.


Mestre Fernando Pinduka na faixa preta com o Mestre Carlson Gracie. Detalhe que o Fernando Pinduka está usando a faixa preta com a ponteira branca.



O USO CORRETO DA TARJA BRANCA

Apesar de ser permitida, a tarja branca deve ser utilizada corretamente. Um erro comum é a aplicação de graus sobre a tarja branca, algo que não está previsto nas regras oficiais. O sistema tradicional estabelece que os graus só devem ser adicionados à tarja vermelha, refletindo o tempo de ensino do praticante.

 

PRESERVANDO A HISTÓRIA DO JIU-JITSU

Com a modernização e a evolução do Jiu-Jitsu, é importante resgatar e preservar a história do esporte. Muitas informações se perdem com o passar dos anos, por isso é essencial buscar conhecimento diretamente com mestres mais experientes e manter vivas as tradições.

Em resumo, a tarja branca na faixa preta é um símbolo histórico que remete à distinção entre competidores e professores dentro do Jiu-Jitsu. Seu uso é permitido pelas regras, desde que respeitadas as normas estabelecidas. A compreensão desse detalhe enriquece o conhecimento sobre a graduação no Jiu-Jitsu e fortalece o legado deixado pelos grandes mestres da modalidade.

 

Fonte e referência do artigo:

Max Câmara – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa vermelha e branca. Líder da academia Oriente Jiu-Jitsu em Niteroi-RJ


domingo, 2 de março de 2025

JUDÔ KODOKAN X JIU-JÍTSU – PARTE 2

 

JUDÔ KODOKAN X JIU-JITSU

Os combates de rua e desafios diretos


Os primeiros anos e os desafios informais (1882 – 1886)

Em 1882, Jigoro Kano fundou a Kodokan com a intenção de modernizar o Jiu-Jítsu, criando uma arte marcial que não fosse apenas eficaz em combate, mas também contribuísse para o desenvolvimento físico, mental e moral. Kano começou com poucos alunos, ocupando um espaço modesto no templo Eishoji, em Tóquio. Entre os primeiros estudantes estavam Shiro Saigo (que merece um artigo à parte), Yoshikazu Yamashita, Sakujiro Yokoyama e Tsunejiro Tomita, que logo se destacariam em desafios e ficariam conhecidos como “Os Quatro Cavaleiros Celestiais”.

No Japão do período Meiji, era comum que mestres e alunos de diferentes escolas testassem suas habilidades em combates de rua ou desafios diretos.

Nos primeiros anos, a Kodokan enfrentou resistência das escolas tradicionais de Jiu-Jítsu, que viam o Judô como uma inovação “menos legítima”.


Os quatro cavaleiros celestiais da Kodokan.




Kano e seus alunos participavam de lutas informais contra praticantes de escolas tradicionais, como a Tenshin-shinyo-ryu e a Kito-ryu. A ênfase do Judô em técnicas de projeção (tachi-waza) e princípios como o uso eficiente da energia começou a mostrar resultados, com vitórias que deram notoriedade à Kodokan. Esses resultados nos desafios de rua levaram muitas escolas tradicionais a verem o Judô como uma ameaça à sua legitimidade. Elas queriam provar, por meio de combates, que suas técnicas ainda eram superiores. Foi nesse contexto de rivalidade que o experiente lutador Seki Juro, da tradicional escola Yoshin-ryu, decidiu desafiar a Kodokan. Para ele, derrotar um judoca seria uma forma de reafirmar a superioridade do Jiu-Jítsu tradicional sobre o novo sistema de Kano.

O desafio foi aceito pela Kodokan, e o escolhido para representá-la foi Shiro Saigo, um dos alunos mais talentosos de Kano. Apesar de jovem e de porte pequeno, Saigo já havia ganhado notoriedade por sua habilidade técnica, força desproporcional à sua estatura e, principalmente, por sua destreza em aplicar a técnica Yama-arashi (“tempestade na montanha”). Ele era uma figura que simbolizava o espírito do Judô: eficiência e precisão superando a força bruta.

Quando o dia da luta chegou, o ambiente estava carregado de expectativa. Seki, maior e mais experiente, entrou confiante. Sua postura transmitia a segurança de alguém que acreditava que o Judô não passava de uma variação inferior do Jiu-Jítsu tradicional. Saigo, por outro lado, mantinha-se sereno, confiando nos ensinamentos de Kano e nos princípios que ele tanto prezava, como o Seiryoku Zenyo (uso eficiente da energia).

A luta começou com Seki tentando impor sua força e experiência. Ele avançou com agressividade, buscando dominar Saigo rapidamente. Porém, foi nesse momento que o jovem judoca demonstrou a essência do Judô: em vez de resistir diretamente, ele aproveitou o movimento de Seki para desequilibrá-lo. Em um instante de perfeita sincronia, Saigo aplicou o lendário Yama-arashi. A projeção foi tão rápida e poderosa que Seki foi arremessado ao chão sem chance de reação. A luta estava terminada.

Shiro Saigo demonstrando o Yama Arashi





A vitória de Shiro Saigo foi não apenas uma vitória pessoal, mas um marco na história da Kodokan. Ela reforçou a eficácia do Judô frente às escolas tradicionais e demonstrou que o sistema de Kano, baseado em princípios científicos e adaptáveis, estava à frente das práticas tradicionais do Jiu-Jítsu. Seki, por mais habilidoso que fosse, viu-se derrotado por alguém que soube usar a técnica com inteligência e eficiência, superando as vantagens físicas do oponente.

Esse desafio teve um impacto profundo na trajetória da Kodokan. Ele solidificou a reputação do Judô como uma arte marcial moderna e eficaz e elevou Shiro Saigo ao status de lenda. Sua habilidade e espírito de luta se tornaram símbolos do que o Judô representava: não apenas força, mas também estratégia, adaptação e respeito aos princípios.

Episódios como o de Seki e Saigo ajudaram a construir o legado do Judô, transformando-o em uma arte marcial que não apenas superou as escolas tradicionais, mas também evoluiu para se tornar uma disciplina mundialmente reconhecida. A “tempestade na montanha” de Saigo continua a ecoar como uma das grandes histórias dos primórdios do Judô.

O torneio histórico contra a Ryoi Shinto-ryu (1886)

Em 1886, a polícia metropolitana de Tóquio organizou um torneio para decidir qual escola deveria treinar suas forças. Duas escolas principais se enfrentaram, a Kodokan (Judô), representando o novo sistema de Kano que ganhou fama por causa dos desafios que venceu, e a Ryoi Shinto-ryu (Jiu-Jítsu), uma escola tradicional com reputação consolidada.

Realizado no dojô da polícia, o torneio contou com 15 lutas oficiais. Shiro Saigo, aluno de Kano, destacou-se, ao usar sua famosa técnica Yama-arashi (tempestade na montanha) para derrotar adversários mais pesados. A Kodokan venceu 13 lutas, empatou 2 e perdeu apenas 1. Essa vitória estabeleceu o Judô como o sistema marcial mais eficaz da época, garantindo seu uso pela polícia e aumentando a reputação da Kodokan.

O confronto com a Fusen-ryu (1900)

No início do século XX, a Kodokan lançou desafios em jornais, o que a levou a enfrentar a Fusen-ryu, liderada por Mataemon Tanabe. Diferentemente de outras escolas, a Fusen-ryu priorizava o ne-waza (técnicas de luta no chão), algo que não era o foco principal do Judô na época. A estratégia da Fusen-ryu era evitar o confronto em pé, os lutadores sentavam-se, atraindo os judocas para o chão, e usavam estrangulamentos, imobilizações e chaves para vencer. Isso fez com que a Kodokan sofresse várias derrotas, expondo uma fraqueza significativa no combate no solo.

ataemon Tanabe demonstrando um Juji Gatame





A resposta de Kano

Reconhecendo a superioridade da Fusen-ryu no ne-waza, Kano agiu com humildade e pragmatismo e convidou Tanabe e outros mestres da Fusen-ryu para ensinar na Kodokan. Kano incorporou intensivamente o treino de ne-waza ao currículo do Judô. Esse episódio marcou a evolução do Judô para uma arte marcial mais completa, equilibrando o tachi-waza com o ne-waza. Essa mudança teve influência direta no desenvolvimento do Brazilian Jiu-Jítsu, por meio de Mitsuyo Maeda, o “Conde Koma”.

 

A consolidação contra outras escolas (1900 – 1920)

Nos anos seguintes, a Kodokan enfrentou praticantes de outras escolas de Jiu-Jítsu que buscavam recuperar prestígio ou provar a superioridade de seus estilos. Graças ao aprimoramento no ne-waza e a já consagrada habilidade no tachi-waza, a Kodokan conseguiu dominar esses desafios. As vitórias consistentes solidificaram o Judô como o sistema marcial dominante no Japão, com outras escolas de Jiu-Jítsu entrando em declínio.

Jigoro Kano (figura central sentada) com Mataemon Tanabe (em pé e lateralizado à direita), integrando o grupo de mestres da Kodokan





Por que esses desafios foram cruciais?

Cada confronto trouxe novas lições, levando a adaptações que tornaram o Judô mais eficiente e versátil. A abordagem de Kano demonstrou os princípios de aprendizado contínuo e humildade, essenciais para o Judô como arte marcial e filosofia de vida. Os desafios moldaram o Judô como uma arte marcial moderna e global, influenciando disciplinas como o Brazilian Jiu-Jítsu e o Sambo. Esses desafios não só definiram o Judô como uma arte marcial distinta, mas também estabeleceram Jigoro Kano como um líder visionário, disposto a aprender com os desafios e a adaptar sua criação para torná-la universal.

Diante de tudo isso, os leitores devem estar se perguntando: por que o nome Jiu-Jítsu prevaleceu no Brasil? A resposta a essa pergunta, apesar de muito interessante e importante, será dada nos próximos artigos.

 

 

Referência de artigo 

CARLOS LIBERI – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa-coral (sétimo grau); membro do Conselho Diretor da Gracie Barra Flórida, instrutor-chefe da GB Sanford e da GB Campinas. Especialista em história e filosofia das artes marciais pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).

DO JIU-JÍTSU AO JUDÔ – 1ª PARTE

 

DO JIU-JITSU AO JUDÔ

A Restauração Meiji e a transformação do Japão


Samurais do clã Satsuma, membros da Aliança Satchō, lutando do lado imperial durante o período da Guerra Boshin – Foto: Felice Beato



A Restauração Meiji teve início em 1868, como resposta às pressões internas e externas que o Japão enfrentava no fim do período Tokugawa (1603 – 1868). Durante séculos, o país esteve isolado do mundo, sob a política do sakoku (fechamento do país), mas esse isolamento foi abruptamente interrompido em 1853, quando o comodoro americano Matthew Perry chegou ao Japão e exigiu a abertura dos portos ao comércio internacional. A presença de Perry expôs as fragilidades militares e econômicas do shogunato Tokugawa, colocando o país em uma situação de vulnerabilidade.

Internamente, o descontentamento com a liderança Tokugawa crescia. Samurais, camponeses e clãs regionais demonstravam insatisfação, especialmente pela incapacidade do shogunato de resistir às potências ocidentais. Clãs influentes, como Satsuma e Choshu, uniram forças para pressionar pela derrubada do shogunato e defender a restauração do poder imperial, como forma de unificar o país e modernizá-lo para enfrentar as ameaças externas.


“A Agência da Casa Imperial escolheu Uchida Kuichi, um dos fotógrafos mais renomados do Japão na época, como o único artista autorizado a fotografar o Imperador Meiji em 1872 e novamente em 1873. Até então, nenhum imperador havia sido fotografado. Uchida estabeleceu sua reputação fazendo retratos de samurais leais ao xogunato Tokugawa.”



A ARTE MARCIAL EM DECLÍNIO E A RESISTÊNCIA DO JIU-JÍTSU

Embora a Rebelião Satsuma, em 1877, retratada no filme o Último Samurai, tenha reacendido o interesse por algumas artes marciais, o Jiu-Jítsu ainda enfrentava forte discriminação. A prática era vista como antiquada, associada a encrenqueiros, e, frequentemente, perigosas demonstrações públicas reforçavam sua má reputação. Instrutores ensinavam golpes perigosos, até mesmo para crianças, e muitos iniciantes se machucavam ao treinar com praticantes experientes.

 

JIGORO KANŌ E A TRANSFORMAÇÃO DO JIU-JÍTSU

Foi nesse cenário que surgiu Jigoro Kanō, nascido em 28 de outubro de 1860. Jovem, frágil e frequentemente humilhado em brigas escolares, Kanō decidiu aprender Jiu-Jítsu, mesmo contra o conselho de ex-praticantes. Sua jornada começou em 1877, na escola Tenshin Shinyō-ryū, com Fukuda Hachinosuke, e continuou com outros mestres, como Iso Masatomo e Likubo Tsunetoshi, da escola Kito-ryū. Kanō soube aproveitar os pontos fortes de ambas as escolas e compensar suas lacunas, desenvolvendo um estilo único que se tornaria o Judô Kodokan.

Retrato do falecido Sr. Kanō



A CRIAÇÃO DO JUDÔ KODOKAN

Kanō redefiniu o propósito do Jiu-Jítsu. Em vez de focar apenas no combate, ele colocou o aprimoramento físico, mental e moral como objetivos principais, relegando o combate a um meio para alcançá-los. Essa abordagem transformou a prática, tornando-a mais acessível e alinhada à sociedade moderna. O novo nome, Judô (Caminho Suave), refletia essa mudança, enquanto Kodokan significava “Instituto do Caminho da Fraternidade” (Ko – fraternidade, Do – caminho, Kan – instituto).

 

A VISÃO DE JIGORO KANŌ PARA O JUDÔ

Jigoro Kanō tinha um objetivo claro ao criar o Judô, como ele mesmo explicou: “Eu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu para torná-lo acessível a todos, modificando seus objetivos, que não eram voltados para a educação física ou moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, embora as escolas de jujutsu tivessem suas qualidades, elas também apresentavam muitos defeitos. Concluí que era necessário reformular o jujutsu como uma arte de combate. Quando comecei a ensinar, o jujutsu estava em descrédito. Alguns mestres ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, promovendo lutas e cobrando ingresso para quem quisesse assistir. Outros se apresentavam como artistas de luta ao lado de lutadores de sumô. Essas práticas degradantes prostituíam uma arte marcial, e isso me era repugnante. Eis a razão de eu ter evitado o termo jujutsu e adotado o termo judô. Para distinguir minha escola da academia Jikishin Ryū, que também utilizava o nome judô, denominei minha escola de Judô Kodokan, apesar de o nome parecer um pouco longo.”

Assim, Jigoro Kanō não apenas fundou o Kodokan, mas também redefiniu os valores e objetivos das artes marciais no Japão, criando um sistema que priorizava o desenvolvimento físico, mental e moral, além de resgatar a dignidade de uma prática ancestral.

 

O SISTEMA DO JUDÔ KODOKAN

Como explicado acima, o sistema de Kanō foi dividido em três pilares: luta, treinamento físico e treinamento mental. A prática incluía o randori (prática livre) e os katas (formas técnicas), que foram sistematizados para facilitar o aprendizado em grupos maiores. Kanō desenvolveu e adaptou técnicas de diversas escolas, criando um repertório estruturado e eficiente.

Entre os katas criados estavam o Kime no Kata (defesa pessoal), Itsutsu no Kata (as cinco formas), Katame no Kata (formas de controle corpo a corpo) e Go no Kata (formas de força). Essas técnicas foram fundamentais para consolidar o Judô Kodokan como uma arte marcial completa e moderna.

 

O LEGADO DE KANŌ

Jigoro Kanō alcançou seus objetivos: transformou o Jiu-Jítsu em uma prática universal, promovendo o desenvolvimento integral do indivíduo e garantindo a sobrevivência da arte em uma sociedade moderna. Sua criação, o Judô, influenciou profundamente o criador do Jiu-Jítsu Brasileiro, o Grão-Mestre Carlos Gracie (por meio dos ensinamentos de Mitsuyo Maeda, o “Conde Koma”, faixa preta da Kodokan), e permanece como um marco no mundo das artes marciais.


O judoca japonês naturalizado brasileiro, Mitsuyo Maeda (Otávio Maeda), o “Conde Koma” no 4º dan



Santuário Meiji em Tóquio, Japão




Referência de artigo 

CARLOS LIBERI – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa-coral (sétimo grau); membro do Conselho Diretor da Gracie Barra Flórida, instrutor-chefe da GB Sanford e da GB Campinas. Especialista em história e filosofia das artes marciais pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).





AS ORIGENS DO JIU-JÍTSU – PARTE 3

 

AS ORIGENS DO JIU-JITSU

A Influência do Sumô e do Kumiuchi no Jiu-Jítsu


Torneio de lutadores de SUMÔ tamanho gigante - Foto: Reprodução /Redes Sociais: Discover Osaka


O Sumô, hoje, é um esporte de combate ritualizado e muito diferente do que conhecemos como Jiu-Jítsu. Suas raízes estão profundamente ligadas a rituais religiosos e à agricultura. E o Sumô foi sendo moldado, ao longo de séculos, por influências culturais, religiosas e militares.

Muitos estudiosos o consideram uma das artes marciais e tradições culturais mais antigas do Japão. Sua origem remonta a mais de 2.000 anos, com registros de combates que datam do período Yayoi (300 a.C. – 300 d.C.).

Suas origens mitológicas são ainda mais antigas. Segundo uma das lendas escritas no “Kojiki” ou o “Registros de Assuntos Antigos” (712 d.C. – clã Yamate), o Sumô foi usado para decidir o controle das terras japonesas em um combate entre dois deuses: Takemikazuchi No Kami e Takeminakata No Kami.

Nesse combate, Takemikazuchi venceu a luta, simbolizando a vitória do clã dos deuses sobre os humanos, garantindo o controle do Japão.

Essa história reforça a ideia de que o Sumô estava intimamente ligado ao destino do país e à sua ordem social, contribuindo para a tradição de respeito, honra e hierarquia, características comuns às artes marciais japonesas.


Canção de proteção contra terremotos (xilogravura, outubro de 1855). Acredita-se que a figura segurando o Namazu (peixe) seja Takemikazuchi


DESENVOLVIMENTO NO PERÍODO NARA E HEIAN (SÉCULOS VIII A XII)

Durante os períodos Nara (710 – 794) e Heian (794 – 1185), o Sumô começou a ganhar mais popularidade entre a corte imperial.

Ele foi formalizado como entretenimento para a nobreza e para as famílias imperiais. Durante festivais ou eventos importantes, competições de Sumô eram organizadas. Essas lutas ainda tinham elementos cerimoniais, porém o aspecto competitivo começava a emergir.

Nessa época, também surgiram registros formais de lutas e regras que moldariam o Sumô como um esporte.

As técnicas usadas nas lutas eram simples (abandonando o aspecto brutal usado anteriormente), baseadas em empurrões, pegadas e quedas, mas sem as regras complexas que vemos atualmente.

Mesmo assim, às vezes, as lutas eram violentas, como a que foi vista pelo Imperador Suinin em 23 a.C., na qual Nomi No Sukune matou Tayma No Kuehara.

Yoshitoshi (1839 – 1892) Xilogravura japonesa – Nomi no Sukune lutando com Taima no Kehaya


INFLUÊNCIA MILITAR E EVOLUÇÃO NO PERÍODO KAMAKURA E EDO (SÉCULOS XII A XIX)

Com o advento do período feudal, o Sumô se tornou uma forma de treinamento para os samurais. Durante o período Kamakura (1185 – 1333), quando o Japão estava sob o domínio militar dos xoguns (ditadura militar japonesa), o Sumô foi usado para preparar os guerreiros para o combate corpo a corpo nos campos de batalha.

Nesse contexto, ele se aproximou das artes marciais, com técnicas de projeção e imobilização, que seriam incorporadas na formatação do Kumiuchi, do Jiu-Jítsu e de outras artes marciais.

O Kumiuchi (luta agarrada) começou a ser formatado no período Kamakura (1185 – 1333), durante as guerras frequentes entre os clãs samurais, enquanto o Sumô seguiu sua própria evolução.

Nesse período, as batalhas eram muitas vezes travadas com armaduras pesadas – espadas, lanças e outras armas –, mas, quando a luta se aproximava, as armas de longo alcance se tornavam inúteis, e os guerreiros precisavam recorrer ao combate corpo a corpo.

Por causa das armaduras que os samurais usavam, os golpes diretos com punhos ou pés eram menos eficazes, daí a necessidade da luta agarrada (Kumiuchi), que se concentrava em técnicas de arremesso, controle de membros e imobilizações que poderiam neutralizar o oponente ou criar uma oportunidade para usar uma adaga curta para um golpe final.

Após a batalha de Sekigahara (1.600 d.C.), o Japão foi unificado sob o xogunato de Tokugawa Ieyasu, dando origem ao período Edo (1603 – 1868), um intervalo de alguns séculos de relativa paz.

Como durante esse período praticamente as batalhas entre os clãs acabaram, não fazia mais sentido treinar o Kumiuchi (com armaduras) e, por isso, essa técnica ou arte (Jítsu), passou a ser mais flexível, adaptável ou suave (Jiu), e o treinamento começou a ser feito com as roupas normais da época, visando à defesa pessoal.

Nasciam assim, os estilos (ryu), que ficariam conhecidos como Jiu-Jítsu.


Taiso Yoshitoshi (1839 – 1892) Lutas famosas entre homens valentes (Eimei kumiuchi zoroi): Tomoe Gozen, 1865. Oban


Referência de artigo 

CARLOS LIBERI – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa-coral (sétimo grau); membro do Conselho Diretor da Gracie Barra Flórida, instrutor-chefe da GB Sanford e da GB Campinas. Especialista em história e filosofia das artes marciais pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).







AS ORIGENS DO JIU-JÍTSU – PARTE 2

 

AS ORIGENS DO JIU-JITSU

Essa luta foi criada na Índia? 


A resposta a essa pergunta no subtítulo é um retumbante “NÃO”. Mas por que tantos mestres e professores insistem em afirmar isso?

A razão é simples: há uma grande confusão entre fatos históricos, tradições orais sem comprovação científica, mitos e lendas que foram perpetuados ao longo do tempo. Vamos então aos fatos.

A origem das artes marciais é uma questão complexa e praticamente impossível de determinar com precisão. Se considerarmos que o termo “arte marcial” se refere ao treinamento de soldados para a guerra, essas práticas surgiram em diferentes culturas, em épocas e contextos distintos.

Sabemos que quase todos os povos antigos tinham algum sistema de combate corpo a corpo, mas a documentação mais antiga aponta a Índia e a China como berços de várias artes marciais milenares.

Gangaram Chintaman Tambat, ativo na década de 1790, anglo-indiano, sem data, aquarela e grafite com caneta e tinta marrom em papel creme médio, levemente texturizado


Na Índia, duas das artes marciais mais antigas conhecidas são o Kalari Payattu e o Vajra Mushti. O Kalari Payattu (“payattu” significa treinamento de combate; “kalari” se refere ao espaço ou ginásio no qual ele é praticado) era muito comum principalmente na região de Kerala, e sua origem remonta a mais de 3.000 anos.

A prática envolve técnicas de luta armada e desarmada, além de um componente espiritual, com ligações com o hinduísmo e o budismo. Já o Vajra Mushti (“vajra” significa cetro ou arma divina; “mushti”, golpe ou soco) era uma técnica de luta desarmada praticada pelos guerreiros da casta Xátria.

A Índia se tornou uma sociedade rigidamente estratificada depois das invasões dos arianos, absorvendo a religião e as tradições desses povos, inclusive suas artes de combate.

Segundo a hipótese mais aceita por acadêmicos, os arianos, povos indo-europeus das estepes da Ásia Central, invadiram o norte da Índia por volta de 1.500 a.C., estabelecendo o sistema de castas e introduzindo a religião védica.

Eles trouxeram consigo técnicas de combate que, com o tempo, foram incorporadas e adaptadas às tradições locais. Esses métodos de luta, transmitidos de geração a geração, poderiam ser algumas das mais antigas formas de combate corpo a corpo metodizadas conhecidas.

Enciclopédia Ilustrada da China (Morokoshi Kinmō Zui Tang Tu Xun Meng La Hui), 1718-1719


Já na China, as referências às artes marciais são igualmente antigas e repletas de simbolismo cultural. O Jiao Di (角抵) é uma das mais antigas formas documentadas de combate chinês.

Originado durante a dinastia Xia (2.070 a.C. – 1.600 a.C.), Jiao Di era uma forma de luta que envolvia o uso de capacetes com chifres e na qual os competidores tentavam derrubar seus adversários.

Ao longo dos séculos, esse combate evoluiu para o Shuai Jiao (摔跤), uma luta de arremesso e projeções que tem semelhanças com o judô e o jiu-jítsu, mas com raízes muito mais antigas.

O ideograma para Shuai () significa “jogar no chão”, e Jiao () significa “arremesso”, destacando a ênfase da técnica em quedas e controle do oponente.

Estas formas de combate corpo a corpo eram usadas tanto em batalhas quanto em competições, e são documentadas desde a dinastia Zhou (1.046 a.C. – 256 a.C.).

O Shuai Jiao foi amplamente praticado pelos exércitos da dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.) e continua a ser uma parte importante da cultura marcial chinesa, rivalizando em antiguidade com as artes marciais indianas.


A pintura da Dinastia Qing retrata uma academia de treinamento de artes marciais chinesas. Dois mestres estão sentados. Vários pares de alunos praticam movimentos de artes marciais

 

Voltando ao mito de que o Jiu-Jítsu teria origem na Índia, podemos entender de onde essa confusão se origina, ao examinarmos a relação entre a Índia, a China e o Japão no contexto da disseminação do budismo.

Siddhartha Gautama, o Buddha (563 a.C. – 483 a.C.), nasceu como príncipe da casta Xátria, e é provável que tenha sido treinado em artes marciais como parte de sua educação.

Após sua “iluminação”, ele renunciou à violência, mas isso não impediu que muitos monges budistas, em tempos posteriores, adotassem as artes marciais para autodefesa durante suas peregrinações.

A chegada do budismo à China é um ponto crucial nessa história. Acredita-se que o budismo tenha sido introduzido na China por volta de 25 d.C., durante o reinado do imperador Ming, da dinastia Han do Leste.

Com essa chegada, houve um sincretismo entre o budismo, o confucionismo e o taoismo, bem como entre estilos de artes marciais chinesas, como o Kung Fu (Wu Shu).

O famoso 29º patriarca do budismo, Bodhidharma (Ta Mo em chinês, Daruma em japonês, 440 d.C. – 528 d.C.), é amplamente creditado como o responsável por conectar o budismo à prática marcial.

Ele viajou para a China por volta do século V e se estabeleceu no famoso Templo Shaolin, onde fundou a escola de Kung Fu Shaolin e o budismo Chan, que mais tarde se tornou o Zen no Japão.

A partir daí, várias tradições marciais e espirituais se interligaram, e é provável que essa associação entre monges budistas e artes marciais tenha levado à ideia errônea de que o Jiu-Jítsu teria nascido na Índia.

 

Uma representação do primeiro ensinamento do Buda aos seus discípulos – Foto de Anandajoti Bhikkhu


No entanto, o Jiu-Jítsu, tal como o conhecemos, tem suas raízes no Japão feudal, desenvolvido por samurais durante o período Heian (794 – 1185 d.C.) e refinado ao longo dos séculos seguintes.

O termo “Jiu-Jítsu” aparece pela primeira vez nos anais da história do Japão por volta do século XVI, durante a guerra civil japonesa (período Sengoku).

Jiu-Jítsu (柔術) significa “arte suave” e reflete o princípio de utilizar a força do oponente contra ele, algo que difere das formas de combate mais brutais e diretas vistas em outras culturas.

Portanto, por conta da intensa influência cultural e religiosa da China no Japão (até os ideogramas são os mesmos), pode-se dizer que as artes marciais japonesas têm em seus “DNAs” genes originários da Índia e, mais fortemente, da China.

 

Referência de artigo 

CARLOS LIBERI – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa-coral (sétimo grau); membro do Conselho Diretor da Gracie Barra Flórida, instrutor-chefe da GB Sanford e da GB Campinas. Especialista em história e filosofia das artes marciais pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).

DO JŪJUTSU AO JIU-JÍTSU – PARTE 1

 

DO JŪJUTSU AO JIU-JÍTSU 

Um passeio pela história das artes marciais que deram origem ao Brazilian Jiu-Jítsu


Jūjutsu (柔術) é uma palavra japonesa que pode ser traduzida como “arte suave” ou “técnica suave”. A pronúncia correta é algo como “dju djutsu”, mas, por causa da barreira linguística, a que foi adotada no Ocidente, mais especificamente no Brasil, foi “Jiu-jítsu” e, por isso, adotaremos essa grafia.

O termo é composto por dois kanjis (ideogramas japoneses): “Ju” () significa “suave”, “flexível” ou “adaptável”; “Jutsu” () significa “técnica”, “arte” ou “habilidade”.

A ideia central do Jiu-jítsu é usar a flexibilidade, a suavidade e o redirecionamento da força do oponente, em vez de confrontá-lo com força bruta.

Essa luta envolve técnicas como alavancas, torções, imobilizações, arremessos e golpes, permitindo que o praticante neutralize um adversário maior ou mais forte, aproveitando o movimento e a energia do oponente.

Historicamente, a primeira vez que o termo Jiu-jítsu apareceu foi no século XVI, durante o período Sengoku (Guerra Civil) no Japão, quando os samurais precisaram desenvolver técnicas eficazes para lidar com situações em que ficavam desarmados no campo de batalha.


Ilustração - Autor desconhecido



Como a armadura dos guerreiros limitava movimentos, o Jiu-jítsu se tornou uma ferramenta perfeita para neutralizar o oponente sem depender apenas da força física.

Nessa época, praticamente cada clã samurai (o Japão era dividido em clãs altamente estratificados socialmente, e os guerreiros samurais a serviço de seus suseranos estavam no topo da escala) desenvolveu o seu próprio estilo (ryū) de Jiu-jítsu.

Cada ryū tinha suas próprias técnicas e filosofias, refletindo as necessidades e as condições da época e da região onde foi desenvolvido. Muitas dessas escolas surgiram entre os séculos XV e XIX, período marcado por guerras civis e o domínio dos samurais.

Algumas estimativas sugerem que havia mais de 200 estilos de Jiu-jítsu durante o Japão feudal. Como já foi dito, cada clã samurai, província ou mesmo mestre desenvolvia seu próprio conjunto de técnicas, muitas vezes combinando conhecimentos de combate armado e desarmado.

Entre as escolas mais famosas de Jiu-jítsu, destacam-se: Tenshin Shōden Katori Shintō-ryū, uma das mais antigas, fundada no século XV, e que incluía tanto combate armado quanto desarmado.

Takenouchi-ryū, fundado no século XVI, é um dos ryū mais antigos focados especificamente em Jiu-jítsu, além de técnicas com armas.

Yōshin-ryū, uma escola que influenciou diretamente o desenvolvimento do Judo e do Aikidō, conhecida por suas técnicas de imobilização e controle.

Kitō-ryū, famoso por suas técnicas de projeção, foi uma das principais influências do Judo criado por Jigoro Kano.

Daitō-ryū Aiki-Jūjutsu, que influenciou o desenvolvimento do Aikidō, focado em técnicas de controle e harmonização da energia do adversário.

Aqui fazemos uma ressalva para uma escola que era pouco conhecida e que teve grande relevância na formatação da luta de chão (Ne Waza) e que influenciaria diretamente o Brazilian Jiu-Jitsu. A Fusen-ryū tem uma história interessante.

“Fusen” significa algo como “imperfeito” ou “incompleto”, e reflete uma filosofia de que as artes marciais estão sempre em evolução e que nenhum lutador ou estilo é perfeito.

Este conceito é bem diferente do foco tradicional das escolas clássicas de “Jūjutsu”, que geralmente afirmavam ter um conjunto de técnicas “completo”.

A Fusen-ryū se notabilizou por vencer os combates contra a escola de Jigoro Kano, a Judo Kodokan, literalmente puxando os adversários para a guarda de pernas na luta de chão (Ne Waza) e finalizando-os com chaves de braço e estrangulamentos.

Fica claro que cada escola tinha variações específicas de técnicas de luta agarrada, projeções, estrangulamentos e controle das articulações, sempre adaptadas ao uso com ou sem armadura, e dependendo da situação militar ou civil.

Como podemos notar, essas tradições foram fundamentais para a evolução das artes marciais no Japão e, em última análise, influenciaram estilos modernos, como o Judo, o Aikidō e o Brazilian Jiu-Jitsu.

É óbvio, no entanto, que a história das artes marciais no Japão não começou com o Jiu-jítsu, ela surgiu bem antes do citado período Sengoku (século XVI).

Diante disso, muitos leitores podem se perguntar:

e a história de o Jiu-jítsu ter vindo da Índia, através da China, para o Japão? É lenda? É mito? É ficção, ou existe algum fundamento? Bom, temos muito o que conversar aqui sobre as artes marciais…


Referência de artigo 

CARLOS LIBERI – Mestre de Jiu-Jítsu, faixa-coral (sétimo grau); membro do Conselho Diretor da Gracie Barra Flórida, instrutor-chefe da GB Sanford e da GB Campinas. Especialista em história e filosofia das artes marciais pelas Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).

domingo, 18 de setembro de 2022

O QUE É A TEORIA DAS 10 MIL HORAS


 Há algumas décadas, surgiu a teoria das 10 mil horas, que informava que a excelência em qualquer atividade estava relacionada com esse volume de tempo dedicado ao aprimoramento das técnicas, sejam elas quais fossem. Isso seria o equivalente a um treino de 3 horas por dia em 10 anos, o que, de certa forma, não parece tão contraditório ou impossível como podemos imaginar inicialmente. O problema é que as últimas pesquisas apontam que esse número pode mudar consideravelmente de acordo com a pessoa e a atividade escolhida.

Os princípios da teoria das 10 mil horas

A princípio, a teoria das 10 mil horas foi “descoberta” por um psicólogo sueco, Anders Ericsson, nos anos 1990. Seu estudo que consistia, essencialmente, em entender como as pessoas se tornavam experts, determinou a média de tempo de prática para a excelência em qualquer campo de atuação.

Em seguida, um grande escritor canadense, Malcolm Gladwell, publicou esse conceito em um dos seus livros (Outliers), em 2008. Em questão de tempo, a teoria se tornou uma espécie de “conceito” no mainstream.

Vale ressaltar que números semelhantes já eram amplamente difundidos no esporte, especialmente nas artes marciais orientais

Um fato interessante é a antiga frase de Bruce Lee, que dizia:

"Eu não tenho medo de um homem que treina 10 mil chutes, mas sim daquele que treina um único chute 10 mil vezes."


Tudo isso ajudou a reforçar a ideia do público geral e inclusive do mundo acadêmico, por algum tempo, de que eram necessárias 10 mil horas para atingir a excelência, seja no esporte, na música ou em qualquer outro empenho ou área de conhecimento humano. Em termos práticos, isso significa que seriam necessárias 20 horas semanais em 500 semanas ou cerca de 3 horas por dia em 10 anos de prática para conseguir alcançar o nível de expert.

Apesar de existirem controvérsias sobre a quantidade de horas para a excelência, é inegável que o treinamento contínuo de uma habilidade é extremamente importante para o desenvolvimento técnico de qualquer atleta. As pesquisas no campo da educação física mostram claramente que o treino, quando bem realizado ajuda a fortalecer os gestos motores, além de garantir uma série de benefícios nas mais variadas valências físicas, incluindo agilidade e destreza.

Como é do conhecimento da maior parte dos treinadores, a boa técnica, normalmente, gera uma economia de movimento. Isso garante mais “espaço” para criação de estratégias ou até mesmo resolução de problemas no treino. De certo modo, a criatividade do jogador está intimamente relacionada com sua capacidade técnica e a repetição.

No entanto, a questão ainda fica sobre qual é o melhor método de treino e como maiores resultados podem acontecer em menos tempo. Ainda assim, simplesmente por uma maneira didática ou para fins métricos, o alcance das 10.000 horas pode ser um marco importante, especialmente para os mais novos que desejam seguir a carreira como atleta profissional.

 

Fonte: https://www.unisportbrasil.com.br